quarta-feira, 25 de março de 2015

Mulher

Nem anjo nem demônio, nem santa nem pecadora, nem recatada nem dada, nem feminista nem machista, nem menina nem mulher. Negava os estereótipos. Rótulos eram obrigatórios aos produtos. Ela não tinha preço. Tinha valor. E valor não tem preço. Se não tem preço, não é produto, se não é produto não precisa dos rótulos. Era mais! Não havia definição em que coubesse, porque se permitia ser revolução e paz. E a cada momento onde uma tese sobre si era concluída, ela imediatamente era outra. Desconstruía teorias com a mesma facilidade que ajudava a elaborá-las. Pra que viver presa em limites que te castram para que caiba. Que te cortam pedaços para ajustar. Era livre, e nem o emprego das 9 as 18, o aluguel, as contas que chegavam todo dia 5, suas obrigações e condicionamentos sociais, aos quais estava subjugada, não por força, mas pela plena consciência de que era assim o certo, e mais do que isso era fruto de suas escolhas, as acertadas e as erradas. Não se escondia atrás do destino. Destino é o nome que se dá ao que não quer assumir. O destino não é uma força isolada. Destino pra ela é construção. Destino é o fim dos meios que te fizeram. Ela levantou, tomou um banho de 4 minutos, um café com açúcar, não precisava se preocupar com as malditas calorias que faziam da vida das mulheres um inferno. E nem se tivesse q se preocupar se preocuparia. Calçou os tênis, a calça jeans justa e desbotada. Camiseta preta com estampa do álbum Physical Graffiti, (amava aquela capa). Pegou suas chaves e foi. Era mais um dia, os pessimistas diriam ser menos um. Mas ela os considerava incompetentes e mesmo que fingisse otimismo era assim que se posicionava. Sorrindo. Porque era o mais útil a fazer. Deixava a depressão pra hora q estivesse de frente com a garrafa de Jack enrolando seu baseado, naquele momento onde colocava pra conversar ,Kafka, Freud , Kerouac, Bukowski, Dostoiévski entre outros tantos, que trouxeram tintas pra pintar aquela criatura, que realmente ela não precisava externar. Seus amigos de viagem. Afinal era humana, e, era mais do que isso, era mulher.

Ellen Matos, 31 anos Formada em comunicação social com habilitação em Jornalismo, pela UFMG, pós graduada em Designer de Produto e Doutorado em Mídia e MKT Publicitário. Escritora e poetiza nas horas vagas.