segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Encontro com o prof. José Pacheco no auditório da E.E. Otoniel Mota em Ribeirão Preto


foto: Emilson Roveri
Essa não foi a primeira vez que participei de um encontro com o educador José Pacheco. Se não me falha a memória (o que pode ser muito provável) tive esse prazer em 2006. Não me pergunte onde, mas foi em um evento que recebeu uma série de palestras durante dois dias em Ribeirão Preto mesmo.  O papo com José Pacheco foi o mais relevante entre todos, tanto, que ainda guardo em meu HD humano muito do que foi dito por esse “portuga cabra macho”.  Essa foi a expressão utilizada por uma colega pernambucana que participou desse  encontro há alguns anos em Ribeirão.   Passado agora seis anos,  no dia 26 de outubro, tive esse prazer renovado na escola Otoniel Mota em Ribeirão Preto. Durante algumas horas, na companhia de vários outros professores, cada um com a sua bagagem pessoal  e conceitos diferentes sobre educação.
José Pacheco para aqueles que ainda não sabem ou conhecem apenas um pouco sobre ele, além de   educador, é o  idealizador da Escola da Ponte, em Portugal, instituição que, em 1976, iniciou um projeto no qual os estudantes aprendem sem salas de aula, divisão de turmas ou disciplinas. Loucura????  Nem um pouco. Possível??? Demais. Nas palavras do educador  essa  estrutura com a qual já nos acostumamos é o principal empecilho para que as coisas aconteçam de fato e a educação não seja apenas gráficos e números em um papel e passe a fazer parte do dia a dia de alunos e professores sem as amarras institucionais das hierarquias e burocracias    "O que fiz por mais de 30 anos foi uma escola onde não há aula, onde não há série, horário, diretor. E é a melhor escola nas provas nacionais e nos vestibulares"  Um dos momentos mais libertadores e sensato do bate-papo foi quando o professor disse.  "Dar aula não serve para nada. É necessário um  outro tipo de trabalho, que requer muito estudo, muito tempo e muita reflexão." Nesse momento olhei a expressão dos colegas e lembrei-me de que era a mesma que avistei em 2006. Os aplausos foram inevitáveis. Afinal, todos naquele auditório sabem disso e  já se questionaram a esse respeito. A aula em si não propicia nenhuma mudança substancial e que se o conhecimento não for significativo, nada acontece.  
Por meio de seu método socrático, o português  respondeu a todas as perguntas feitas com a máxima propriedade de quem vivenciou experiências o suficiente, nessa área tão complexa que é a educação. Mostrou saber mais do que todos nós sobre os nossos educadores. Dois  dos educadores citados por ele foram Eurípedes Barsanulfo (1880-1918) http://www.saudadeeadeus.com.br/filme26.htm e Tomás Novelino (1901-2000)  http://desmanipulador.blogspot.com.br/2012/10/biografia-tomas-novelinoeducador.html  que só conheço porque saía com uma moça espírita.
  Falou sobre a autonomia do professor que não pode nunca ser deixada de lado. Provocou-nos a debater e criar projetos em nossas escolas dentro dos princípios autônomos, que nos leva a refletir sobre nossa própria conduta em sala.  
Espero que todo o entusiasmo demonstrado ao fim desse encontro pelos professores que restaram,  reflita em ações, debates e aproximações com aqueles que pensam diferente. Sei que é difícil. Divulguei esse encontro para muitos colegas e muitos deram de ombro e questionaram a eficácia desse trabalho. Preferem continuar com o masoquismo existente dentro das salas de aula, até que os antidepressivos e calmantes já não façam mais efeito e enfim possam se aposentar com aquele papo furado tão comum em HTPC ou quaisquer outras reuniões pedagógicas de que a educação no Brasil não vai pra frente.

Ouça agora o som da banda Garotos Podres sobre o ambiente escolar. Só um detalhe, o vocalista dessa banda também é professor.


Escolas
Garotos Podres

Nas escolas
Onde a cultura é inútil
Nos ensinam apenas
A sentar e calar a boca
Para sermos massacrados
Pelo discurso reacionário
De professores marionetes
Controlados pelo Estado

Nas escolas
Você aprende
Que seu destino já está traçado
Pois querem os transformar
Em Cordeirinhos domesticados
Prontos pra serem transformados
Em operários escravizados

Querem nos transformar
Em máquinas
Para submetê-los
A cadência do trabalho
E horários embrutecidos
Pelos carrascos ponteiros do relógio

Me mandaram à escola
Para me dominar
Me mandaram à escola
Para me manipular
Me mandaram à escola
Para me escravizar
Me mandaram à escola
Para me domar







João Francisco Aguiar é um dos editores do âncorazine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.

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