domingo, 13 de novembro de 2011


EMBRULHOS

Mozzambani

O escritor Luiz Mozzambani Neto de Monte Alto me foi apresentado pelo poeta Nicolas Guto de Ribeirão Preto durante a Feira do Livro de 2009 se não me falha a memória. Depois tive com ele mais alguns encontros esporádicos.  No dia 16 de outubro ambos participamos de   um encontro de Filosofia, Literatura e Música promovido pelo   Coletivo CULTURAMA MACC.

Nesse encontro comprei um de seus livros. Embrulhos. Após pedir ao autor que o autografasse, guardei-o na bolsa e lá ele ficou por uma semana. Certo dia, no ônibus para a cidade de Jardinópolis onde dou aulas, remexi minha bolsa e o encontrei ali no fundo. Comecei a Lê-lo e de imediato, ele passou a fazer parte das leituras que faço a caminho do trabalho, nos dois coletivos que pego. Serrana à Ribeirão Preto e Ribeirão Preto à Jardinópolis.

A primeira coisa que me chamou atenção em Embrulhos foi o cenário em que se passam as histórias. A antiga Fazenda Tabarana, antes dessa ser vendida à usina e transformada em canavial. Não, não conheci essa fazenda, mas tenho memórias de uma fazenda que visitava  na companhia de meu avô quando era criança. E meu avô trabalhou em  uma.  Minha mãe e meus tios foram nascidos e criados na  Fazenda da Figueira. Que teve o mesmo destino da Fazenda do livro.

Gostei do tratamento dado as personagens, como por exemplo,  os animais que   são chamados por nomes de “gente”  e se o leitor não prestar atenção pode mesmo achar que se está falando de uma pessoa.

O trecho do livro que mais mexeu com as minhas memórias de menino se deu no que o autor  narrou a morte de Rafael. Um porco branco que aguçou a curiosidade do “filhote do caipira”  levando  o moleque há um bocado de questionamentos. O porco foi morto pelo pai do garoto.

Lembrei-me nesse instante do noivado de um dos meus primos. Na cidade de Serra Azul. Eu estava sentado na sarjeta, assistindo minhas primas brincarem de pular corda e de olho nos fundilhos da minha prima mais velha que diferente das outras, ainda novinhas, usava calcinha vermelha. Devo a essa parenta muitas das minhas descobertas de moleque. De repente um grito chamou a atenção da molecada para o quintal da casa. "Corram!!!! Venham... o tio vai matar aquele porcão pra festa!!!!!!!”Corri em meio a trupe, mais interessado pelo vermelho da calcinha de minha prima do que pelo vermelho que saltaria do peito do pobre porco.  

Quando cheguei todos os parentes estavam em volta do porco e  meu tio calmamente explicava como seria o assassinato do pobre animal. Até que o pai da noiva disse. “ Deixa eu matar...eu nunca matei um...você me ensina, vai!!!!!” Meu tio deu a faca afiada na mão dele e disse, “enfia aqui, ó...” Nunca assisti cena tão horrorosa. O porco não morria. E o homem não parava de socar aquela faca. Virei de costas, não era capaz de testemunhar aquilo por mais tempo. Foi a desculpa perfeita para o “pai da noiva” dizer, “ é esse teu sobrinho, tá com pena do bicho...desse jeito não vai morrer mesmo.  Culpa desse moleque.” Corri pra fora da casa e fui sentar na calçada com as mãos nos ouvidos. Depois minha prima me contou que meu tio tirou a faca da mão do homem e terminou o serviço numa facada só. O meu tio tinha experiência em matar,  não só porco,  mas vaca, carneiro, alguns diziam que até gente.

O livro Embrulhos,  além das memórias despertadas, me surpreendeu bastante. Ainda mais no final que me deixou perdido sem saber para onde ia aquela narrativa. Recomendo a leitura.  


Luiz Mozambani é escritor independente e militante cultural da AGCIP. Autor dos livros:EMBRULHOS, A CIDADE QUE MATOU A ESTRELA e QUEIMA DO ALHO: alimento do corpo e da alma do peão de boiadeiro. Participou também da Antologia: WEB AZUIS, uma antologia de escritores virtuais.

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