EMBRULHOS
Mozzambani
O escritor Luiz Mozzambani Neto de Monte Alto me foi apresentado
pelo poeta Nicolas Guto de Ribeirão Preto durante a Feira do Livro de 2009 se
não me falha a memória. Depois tive com ele mais alguns encontros esporádicos. No dia 16 de outubro ambos participamos de um
encontro de Filosofia, Literatura e Música promovido pelo Coletivo CULTURAMA MACC.
Nesse encontro comprei um de seus livros. Embrulhos. Após pedir
ao autor que o autografasse, guardei-o na bolsa e lá ele ficou por uma semana. Certo
dia, no ônibus para a cidade de Jardinópolis onde dou aulas, remexi minha bolsa e o
encontrei ali no fundo. Comecei a Lê-lo e de imediato, ele passou a fazer parte
das leituras que faço a caminho do trabalho, nos dois coletivos que pego.
Serrana à Ribeirão Preto e Ribeirão Preto à Jardinópolis.
A primeira coisa que me chamou atenção em Embrulhos foi o
cenário em que se passam as histórias. A antiga Fazenda Tabarana, antes dessa
ser vendida à usina e transformada em canavial. Não, não conheci essa fazenda,
mas tenho memórias de uma fazenda que visitava na companhia de meu avô quando era criança. E
meu avô trabalhou em uma. Minha mãe e meus tios foram nascidos e criados
na Fazenda da Figueira. Que teve o mesmo
destino da Fazenda do livro.
Gostei do tratamento dado as personagens, como por exemplo, os animais que são chamados por nomes de “gente” e se o leitor não prestar atenção pode mesmo achar
que se está falando de uma pessoa.
O trecho do livro que mais mexeu com as minhas memórias de
menino se deu no que o autor narrou a
morte de Rafael. Um porco branco que aguçou a curiosidade do “filhote do
caipira” levando o moleque há um bocado de questionamentos. O
porco foi morto pelo pai do garoto.
Lembrei-me nesse instante do noivado de um dos meus primos.
Na cidade de Serra Azul. Eu estava sentado na sarjeta, assistindo minhas primas
brincarem de pular corda e de olho nos fundilhos da minha prima mais velha que
diferente das outras, ainda novinhas, usava calcinha vermelha. Devo a essa
parenta muitas das minhas descobertas de moleque. De repente um grito chamou a
atenção da molecada para o quintal da casa. "Corram!!!! Venham... o tio vai matar
aquele porcão pra festa!!!!!!!”Corri em meio a trupe, mais interessado pelo
vermelho da calcinha de minha prima do que pelo vermelho que saltaria do peito
do pobre porco.
Quando cheguei todos os parentes estavam em volta do porco e meu tio calmamente explicava como seria o
assassinato do pobre animal. Até que o pai da noiva disse. “ Deixa eu matar...eu
nunca matei um...você me ensina, vai!!!!!” Meu tio deu a faca afiada na mão
dele e disse, “enfia aqui, ó...” Nunca assisti cena tão horrorosa. O porco não
morria. E o homem não parava de socar aquela faca. Virei de costas, não era
capaz de testemunhar aquilo por mais tempo. Foi a desculpa perfeita para o
“pai da noiva” dizer, “ é esse teu sobrinho, tá com pena do bicho...desse jeito
não vai morrer mesmo. Culpa desse
moleque.” Corri pra fora da casa e fui sentar na calçada com as mãos nos ouvidos.
Depois minha prima me contou que meu tio tirou a faca da mão do homem e
terminou o serviço numa facada só. O meu tio tinha experiência em matar, não só porco,
mas vaca, carneiro, alguns diziam que até gente.
O livro Embrulhos, além das memórias despertadas, me surpreendeu
bastante. Ainda mais no final que me deixou perdido sem saber para onde ia
aquela narrativa. Recomendo a leitura.
Luiz Mozambani é escritor independente e militante cultural da AGCIP. Autor dos livros:EMBRULHOS, A CIDADE QUE MATOU A ESTRELA e QUEIMA DO ALHO: alimento do corpo e da alma do peão de boiadeiro. Participou também da Antologia: WEB AZUIS, uma antologia de escritores virtuais.
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