sexta-feira, 1 de março de 2013

Tudo o que é sólido se desmancha no ar


Rio de Janeiro, 23 de março de 1971.

Debruçado na janela do terceiro andar, vejo os carros que passam pela rua. Cai sobre o asfalto uma chuva suave, típica do verão carioca, apesar de ter se passado dois dias do início do outono. Minha mente não deixa de pensar nela enquanto uma brisa suave golpeia meu rosto trazendo as recordações; uma análise rápida do que se passou. Ah, meus amigos, nós éramos felizes. Formávamos um belo casal. um tanto quanto exótico, porém simétrico. – Simetria, que palavra engraçada! Repito na minha cabeça, divagando por um instante. Lembro de outras palavras pronunciadas com tanta verdade e das promessas feitas com tanta certeza. Lembro, também, dos apelidos idiotas, os quais nos tratávamos com tanto carinho. Hoje nos tratamos apenas por senhora e senhor. Antes costumávamos nos amar, mas o amor de outrora simplesmente desmanchou-se no ar, juntamente com as palavras, as promessas e os apelidos. Isso mesmo meus amigos, também fui pego de surpresa. Hoje o que nos resta são dois corpos vazios que costumavam preencher um ao outro. Hoje o que sobrou são corações em luto. Penso nisso tudo no tempo de um cigarro. Relacionamentos são como cigarros: tudo está bem quando desfrutamos de seus prazeres fugazes, mas no fim, nada mais são do que fumaça, desvanecendo-se lentamente no ar.



Bruno Francia Carvalho é graduado em História pela UEM (Universidade Estadual de Maringá), pretenso vocalista, apaixonado por leitura, cinema, literatura, história da arte e outras coisas afins. Atualmente leciona como professor (na rede particular e estadual) e tem muito apreço pela escrita independente tanto de poesias, como de textos aleatórios que falam sobre o âmago de quem os escreve. Atualmente mantém um blog independente cujo conteúdo revela seus pensamentos; com o mero intuito de revelar para o público ideias particulares de uma pessoa comum que, como todo mundo, sofre de amores e ódios e tenta expressar isso em palavras

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