segunda-feira, 5 de dezembro de 2011


Um roteiro para habitar a escuridão atrás das pálpebras.

Olhar, sorrir os olhos, brilhar os olhos, tocar, dissimular a natureza do toque, descobrir uma marca evidente, imaginar o sabor dos lábios, abraçar além do gesto, sentir o coração alheio, despedir-se, desejar o reencontro, conviver com alguma espécie de saudade, escrever algumas linhas bobas, rasgar, ansiar um acaso, projetar o outro na tela escura dos sonhos, reencontrar, olhar, sorrir os olhos, brilhar os olhos, produzir frações de silêncio, quebrar os silêncios... silêncio... produzir um acaso, tocar, revelar a natureza do toque, a densidade dos lábios, o gosto da saliva, viver o abismo atrás das pálpebras, reabrir os olhos, refletir-se nas retinas do outro, permitir ao outro refletir-se nas suas retinas, sentir a memória dos lábios, habitar com sangue a epiderme da face, sorrir os olhos, sorrir os lábios, revelar os dentes, baixar os olhos, descobrir as mãos que se descobrem, comparar as mãos, o formato das unhas, medir o comprimento dos dedos, verbalizar a beleza, calar-se diante da beleza... silêncio... re-beijar, re-atirar-se ao abismo, viver atrás das pálpebras, invadir o avesso das roupas, revelar o avesso das roupas,  viver a pele do outro, beijar a nudez, morder a nudez, percorrer as planícies da pele, acomodar-se onde o corpo dobra, beber onde o corpo entra, onde o corpo excede, entrar o corpo, transpirar os corpos, produzir a fragrância do sexo, revelar a força dos músculos, a insaciedade animal, desorganizar os cabelos, revelar os sons que habitam o ventre, violar a nudez, dominar a nudez, cravar as unhas na pele, marcar a pele, explorar o limite dos músculos, expandir os limites do gozo, encontrar um segundo vazio, liquefazer o prazer em sêmen, descansar os músculos, percebê-los trêmulos, repousar um corpo sobre o outro, a cabeça sobre o peito, acompanhar com os olhos da pele gotas de suor que escorrem frias, permitir que mãos e pés continuem a movimentar seus dedos numa exploração mínima sobre o suor, sentir secar o suor, descobrir pintas ou pequenas cicatrizes em lugares ocultos, constatar as marcas rubras do sexo, memorizar a cor dos mamilos, o caminho das veias, a textura dos pelos, verbalizar, rir, calar ... silêncio...  Sorrir os olhos, brilhar os olhos, viver o abismo atrás das pálpebras...  


Uma pequena apresentação minha:

Murilo De Paula, sou formado pelo curso de Artes Cênicas da Unicamp. Artista Cênico, atuo um pouco danço talvez escrevo rabisco palavras desenhos qualquer coisa que caiba na voz que se faz entre um e outro. Atualmente faço parte do núcleo de dramaturgia do SESI/Britsh Consil, da Caleidos Cia de Dança e sou orientador de teatro pelo Projeto Ademar Guerra. Rabisquei, cortei e colei o Ancora Zine, e já que o Zine veio a mim com Mãe e Pai me declaro o Amante.



 

2 comentários:

  1. MURILO, CONTINUE RABISCANDO PALAVRAS, COMO DISSE...VOCÊ ESCREVE MUITOOOOOO!!!!
    ADOREI O "ROTEIRO"!
    ABRAÇO, SUZETE

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  2. Obrigado Suzete, seguirei rabiscando. Abraço, Murilo

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