ganhei girassóis
girassóis de verdade
não sairam do poema
de ginsberg
e nem do quadro que
tenho em meu quarto
trata-se de um presente
é assim que chegam até mim
como oferendas
sempre no momento em
que mais preciso
meu primeiro girassol
chegou em forma de
poesia
em um uivo louco
em uma noite triste
e eu o devorei
palavra por palavra
saboreei cada verso
e só parava de
mastigar nas vírgulas
para relembrar o
sabor dos verbos passados
meu outro girassol
brotou de mãos
aprisionadas
da solidão da cela
para a da minha casa
vive preso em uma
parede
a velar o meu sono
os girassóis de agora
não foram pintados
e nem imaginados em
metáforas
esses de agora têm
perfume
precisam de cuidados
há muita vida em meus
três girassóis
esses agora estão em
um vaso
um mais alegre
o outro mais sensato
e o mais velho triste
sou muito amigo do
mais velho
gosto da mistura da essência
que os três exalam
um não poderia viver sem o outro
há vida e morte em
sua pétalas
assim como em minhas
lágrimas.
João Francisco Aguiar é um dos editores do âncora zine e desse blog. É professor, conhecido por seus alunos e colegas de trabalho como jofra, baterista da banda Corvo de Vidro. Não acredita em processos de mudança, e sim na ruptura como mudança do real. Se não está satisfeito com o pano de fundo de sua vida, não mude a si mesmo troque o pano, mude de amigos, de cidade e até de planeta se conseguir. Para ele a imaginação supera a razão.
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