Os pés...
Explico
o porquê, na verdade nem contei para explicar, estou na sensação, e um
exercício violento para educar meus impulsos. Eu quase trinta, profissão
prazerosa e pouco rentável, a vida e sonhos muitos mais acomodados que inertes,
e a rotina no meu copo d'água. Já tinha desistido de Lord Byron e as profundezas. Fui um misto de
tentativas e medos. Experimentei o amor e a destruição. A futilidade e o
enfrentamento desciam por escombros dentro de mim. Havia tomado uma decisão,
ficaria para titio.
Fevereiro
primeira aula do ano, turma nova e boas expectativas. Galera atenta e disposta.
A rotina e as descobertas de narrativas ansiosas pela muralhas da caminhada.
Eles querem ser vistos da lua. Reconheço
alguém do meu passado próximo, passado em textos e teatros. Tinha trabalhado
numa peça Roseana e ela estava lá no processo, não conversamos muito, mas foi o
suficiente para gostarmos um da fotografia do outro.
Com
o tempo nos aproximamos, eu profissional
e ela curiosa. e percebemos que muita coisa nos afinidava. Música, teatro,
dança e principalmente sensibilidade. Como adorávamos nos afundar nesse balde
de sensações humanas. Nossas conversas foram ficando mais como álbum de
figurinha, a todo momento um chegava com uma que faltava. Ela cheirosa, às
vezes de cabelo molhado, e um detalhe que é um deleite, seus pés. Sim, sou um
homem comum, com fetiches em pés. Eles eram pequenos, tamanho 34 ou 35, pele
clara e fina, unhas grandes nos dedos, sem marcas e perfeitamente encaixados num
chinelo simples, mas que brilhava naquele instante.
Fiquei
apaixonada por eles, e aqui faço uma ressalva, ela também era bonita, pois raiz
boa dificilmente dá frutos ruins. Sonhei meses com aqueles pés, mas não podia
manisfestar nada, pois era minha aluna com seus dezessete anos. Sempre
respeitei esta condição.
Ela
demostrava interesses pelas aulas, mas principalmente pelas conversas. E aqui
confesso que evitei. Ela chegava mais cedo, propunha bons temas e espertamente
sabia o eu que gostosa. Tinha o capricho de colocar Jaco Pastorius no mp3 só
para me deixar louco, mas os pés me calavam, os sonetos amorosos de Vinícius
começaram a fazer sentido. Tudo era brumal naqueles minutos.
Um
dia ela saiu chorando de uma aula, era pela sensibilidade, cada gota sua era
uma enxurrada para mim. Percebi que ela começou andar pelos meus caminhos e me
observar.
Quem imagina. Nos falamos de
maneira objetiva, ela com aqueles pés que dariam um novo destino a minha vida e
eu sem nada a oferecer. Nos encontramos numa festa, dançamos, rimos, não conseguíamos
ficar longe um do outro. No meio do turbilhão, ela disse que iria embora
comigo. Custou-me um emprego, que foi
o preço mais barato que paguei por algo sem valor mensurável e maravilhoso.
Sim, fiquei louco, mas deixo minha inquietação e me exponho dizendo que sou
vítima daqueles pés.
Um instante...
Levei-a
embora, ela estava sem sandálias, quando parei o carro em frente sua casa e fui me despedir vi seus pés e reticente a
beijei. Ela me entregou o sonho e foi
pela calçada. Seu cheiro me entorpeceu, seus pés marcavam minha estória para
nunca mais ser a mesma. Aumentei meu som e ouvi o Vinícius recitando uma
poesia, dizendo ao final, essa é a minha mais nova namorada.
esse texto
é Para Priscila Amaral....
leandro rosa felix, , professor, baixista da banda livre docente de Franca e amigo de longa data, é o cara que iniciou o fanzine âncora comigo e que também pode reivindicar a paternidade desse blog.
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